Autor:
Raimundo Nonato Martins Cutrim (Natural de São João Batista-MA)
Médico sanitarista, professor da UFMA e doutor em Doenças Tropicais
As doenças ditas tropicais, que são muito mais sociais que tropicais, atingem a faixa mais quente do planeta Terra, entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio.
Ainda matam milhões de pessoas todos os anos, nos países do Terceiro Mundo.
A Malária já esteve no Sul da Rússia, em toda a Europa, em regiões geladas. Mas atualmente está restrita a países quentes e pobres do Terceiro Mundo, da África, Ásia e América Central e do Sul. Na África morrem hum milhão de crianças todos os anos. No Brasil a doença atinge principalmente a Região Amazônica inclusive o Maranhão.
A Doença de Chagas que existe somente no continente americano, exceto Estados Unidos e Canadá, porque são países ricos, cujos habitantes vivem em casas de boa qualidade. A doença está controlada no Brasil, mas ainda
existe cinco milhões de Chagásicos no país. A nação mais acometida pela endemia é a mais pobre das Américas - a Bolívia.
A Esquistossomose, “Barriga d’Água” ainda acomete 200 milhões de pessoas pobres da Ásia, África e América Central e do Sul. Quase todos os Estados brasileiros possuem a doença. Na periferia de São Luís, em muitos bairros existe a endemia, inclusive no Campus da UFMA. Na Baixada maranhense é uma doença de caçadores e pescadores que precisam dos campos para sobreviverem.
A Febre Tifóide, a Hepatite A, a Cólera e muitas outras doenças acometem populações sem serviços de saneamento e que ingerem água sem tratamento.
A Hanseníase é uma doença que acomete populações pobres do Terceiro Mundo. A Índia e o Brasil são os campeões da endemia.
A Peste, doença milenar e que já matou mais que todas as guerras em todos os continentes inclusive na Europa. Hoje está restrita aos países tropicais. No Brasil ainda existe na Região Nordeste.
A Tuberculose só ataca pessoas que vivem em extrema pobreza com alimentação precária.
O Tracoma é ainda a principal causa de cegueira nos países do Terceiro Mundo. No Brasil ele ainda existe em regiões secas com escassez de água na Região Nordeste e Centro Oeste.
O grande problema do Brasil é a pobreza, a desnutrição, a ignorância, o subdesenvolvimento em grandes áreas, que são os responsáveis pela maior parte das doenças neste grande país. No Brasil só há uma grande endemia a fome. Todas as demais são causas agravantes.
O mosquito da dengue Aedes aegypti é um vetor socialista. Gosta de sombra e água fresca, de casas simples e mansões, de barracos e palafitas, a apartamentos de luxo em bairros de ricos e de pobres.
O mosquito foi erradicado do Brasil em 1955. Em 1967 foi reintroduzido em Belém e em São Luís e erradicado em 1972. Em 1976 foi reintroduzido no Rio de Janeiro, e se espalhou para todo o país. Atualmente a maioria dos municípios brasileiros possuem o vetor socialista. Os primeiros casos registrados da doença foi em 1981 em Boa Vista - Roraima. Reapareceu em 1986 no Rio de Janeiro. Se espalhou pela cidade e acometeu mais de dois milhões de pessoas. Em 1995 quando voltei do Doutorado, a dengue estava acometendo toda a população de São Luís. Escrevi um artigo, que circulou nos principais jornais da cidade, mas nada adiantou. Todos os quatro sorotipos estão circulando no país. A Dengue clássica e hemorrágica estão em todo país, acometendo ricos e pobres, sem distinção de cor, religião, classe social e partido político.
O mosquito da Dengue é mesmo um vetor socialista, um “bon vivant” que gosta de sombra e água fresca.
Médico sanitarista, professor da UFMA e doutor em Doenças Tropicais
