Artigo
Escrito pelo Membro do Fórum da Baixada, Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da AML,
AMM, IHGMA e SOBRAMES.
A Baixada, a
despeito de todos os maus -tratos, vive e resiste.
Na semana passada, eu fui alcançado
por diversas mensagens de baixadeiros que se identificaram com o artigo que
aqui publiquei, constatando que há naquela região uma terra santa. Fiz referência
ao meu torrão natal, minha amada Cururupu; mas diversos leitores me disseram
que a descrição que apresentei os fez recordarem de suas próprias cidades
natais, dadas as semelhanças dos aspectos geográficos que irmanam cada uma das
cidades da baixada maranhense.
Uma obra que também pode fazer
surgir esse amálgama de sentimentos, por elencar uma serie de escritos de
elementos nostálgicos comuns, atende pelo nome de Ecos da baixada – coletânea
de crônicas sobre a baixada maranhense e que se constitui numa daquelas
iniciativas que a arte, na forma de literatura, pode se propor, quando tudo o
mais, ao longo dos anos, falhou por incontáveis razões. O Eco é aquilo que
reverbera mesmo depois da fonte originária ter cessado. Ele ricocheteia e se
espalha, repetindo a palavra várias vezes, para que seja ouvida e quem sabe
despertar em seus ouvintes passivos, esquecidos e alheios a atenção necessária.
A publicação é uma iniciativa do
fórum da baixada maranhense e reúne uma plêiade de baixadeiros escritores
amantes d sua terra que, a despeito da riqueza natural da diversidade
multifacetada de mar, terra, rios, florestas, lagos, flora e fauna, de ter uma riquíssima
cultura – até um sotaque peculiar, um léxico de palavras únicas – tem amargado,
ao longo dos seus breve séculos de ocupação, o esquecimento e o desenvolvimento
espasmódico que alcança só precariamente sua gente lutadora.
Ler o livro é fazer uma impressionante
viagem por todos os rios e ter a mão uma ictiografia detalhada. Confesso que
aprendi mais nomes de arvores que em todas minas leituras anteriores. O livro é
feito por apaixonados que foram reunidos por inciativas do Advogado – devo acrescentar
o espirito embaixador bixadeiro? – Flavio Braga, Presidente do Fórum.
A proposito, a palavra baixadeiro é
desconhecida pelos dicionários com o sentido carinhoso que aqui menciono, como
uma designação uma naturalidade, mais encontrei a palavra associada a um tipo
cavalo rústico, que se desenvolveu naturalmente e por algumas intervenções
humanas justamente em nossa baixada, desde o Brasil colônia. É um animal
pequeno, resistente, totalmente aclimatado aos extremos de seca e cheia da
região. É uma raça antiga e um patrimônio genético que honra a comparação com
habitantes da região no aspecto tenacidade e resistência às intempéries.
Na obra que mencionei – ainda inédita
– há ao mesmo tempo um toque de tristeza, quando se lê, por exemplo, na crônica
de Nonato Reis, um lamento pelo Rio Maracu que, com o outros no Maranhão e
talvez em estado mais grave morre a mingua ano a ano. Mas toda a hidrografia da
Baixada está gravemente comprometida e as iniciativas até hoje são, na melhor
das hipóteses tímidas. O Eco da Baixada deve ser distribuído nas escolas, na
esperança de que crianças e jovens sensibilizados, se tornem ainda agora
aqueles que farão de suas jovens vidas ecoar o chamado, não para salvar a
natureza manifesta da baixada, mas para se harmonizarem com ela, como se seus
rios e igarapés fosse suas veias que irrigam suas vidas.
A pena destes escritores que
integram a obra faz as vezes de gritos proféticos. Clamam pelos rios com os
elementos fundamentais de todo um ecossistema único e que arqueja, como se
fosse a materialização das palavras do apostolo Paulo que, e sua Carta aos
Romanos, diz: “Sabemos que toda natureza criada geme até agora, como e dores de
parto.” (Romanos 8:22)
Quem nasceu naquele lugar sabe do
que falo. A Baixada a despeito de todos os maus-tratos a que foi submetida,
vive e resiste. Viva a Baixada!!
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